quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Rio das Flores




Terminei de ler este livro de Miguel Sousa Tavares ontem.

Não sou especialmente fã do MST, no entanto posso dizer que gostei bastante, por diversas razões. A primeira que me ocorre é que mal o terminei, fiquei com saudades das personagens e do mundo que as rodeia. Confundiu-me pensar que não ia ter mais nada, mais nenhuma maneira de partilhar o mundo delas, que ia perder o resto da história delas, que não ia ter mais nada para ler. Acho que isto é demonstrativo do poder de imersão do universo deste livro.


Para a imersão contribuem diversos factores, que já explicitarei, mas convém antes disso uma breve explicação sobre a história, que afinal está na base deste universo: basicamente o romance consiste na história de algumas gerações de latifundiários no Alentejo, suas experiências e opiniões. Situando-se entre cerca de 1910 e 1950, o foco vai inteiramente para a família Flores: desde o pai, Manuel Custódio, adorador de touradas e tudo o que tenha a ver com Sevilha, e sofredor de uma morte prematura durante a caça; à sua mulher, Maria da Glória, a mulher sábia dentro de uma casa de homens; a Diogo e Pedro, os filhos de Maria da Glória e Manuel Custódio, em quem a história realmente se centra: a sua disparidade de feitios e maneiras de ser; as opiniões toleradas mas não aceites, as aventuras partilhadas, os caminhos seguidos, a união e separação - as diferentes noções de liberdade, política, felicidade; tudo as torna personagens fascinantes num caminho percorrido por nós junto delas. Os fascínios dos personagens pelo Brasil, pela parte de Diogo, e pela própria terra do Alentejo, por parte de Pedro, também são interessantes de ler, e fazem-nos ter noção do importante que um local pode ser para o estilo de vida e própria personalidade de uma pessoa.


As vantagens da escrita de MST também podem ser consideradas desvantagens, tudo depende do tipo de leitura que mais interessa a cada um: uma escrita romanceada, misturada com factos históricos reais, recheada de pormenores deliciosos, centrada nos anos 20-50. Um dos focos principais de MST foi a política: é de facto o que mais preenche o livro, o que motiva muitas das acções, pensamentos, discussões dos personagens. E é descrita com imensos factos, datas, nomes. Pode-se tornar um pouco "maçador", para quem se quer focar mais nos personagens, que são de facto interessantes. Mas também é a partir destas mini-histórias paralelas que entendemos muito do que era a política da época, e do Fascismo e Comunismo em si.

Para mim, é um livro que vale a pena ler. É preciso ter paciência para aguentar tantos conceitos, tantos nomes, tantas histórias entrelaçadas. Mas somos recompensados com uma leitura que nos agarra completamente ao mundo que cria.

E, por isso, Miguel Sousa Tavares está de parabéns.

1 comentário:

Anónimo disse...

Excelente review, fiquei intrigado com o livro...